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quinta-feira, 18 de julho de 2013

Explicando as Manifestações no Brasil: o dia de Habermas

"Não pára, não pára, não pára não!"

 Roberto Stuckert Filho: Fortaleza - CE, 18/07/2013. Presidenta Dilma Rousseff durante cerimônia de inauguração das estações Chico da Silva e José de Alencar da linha sul do metrô de Fortaleza. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR


No exato momento em que escrevo este texto, os dirigentes do governo brasileiro tentam inserir discursos pró-governamentais que ocupem as mentes dos jovens brasileiros navegantes da INTERNET. Tentaram uma constituinte parcial restrita às questões da reforma política[1], um plebiscito sobre a reforma político-partidária e agora enfatizam a suposta espionagem estadunidense nos meios de comunicação brasileiros. O governo tenta a todo custo canalizar o levante popular a seu favor. A classe política está amedrontada, e com justa razão, pois na história do Brasil nunca se viu manifestações espontâneas desta magnitude. Os partidos de oposição até agora foram incapazes de tirar qualquer proveito do movimento. Manifestantes dos partidos de esquerda, que durante dezenas de anos desfilaram com suas bandeiras, foram fisicamente impedidos, de participar destas últimas manifestações, pois, simplesmente, os jovens tomavam os paus de suas bandeiras para "surrá-los". Os jovens disseram com todas as letras: os partidos não nos representam. Foi instalada uma verdadeira crise de representação. Parlamentares chegaram a propor a extinção dos partidos políticos.

Os jovens marcam as passeatas através das redes sociais sem que hajam líderes ou liderados, dificultando possíveis cooptações que possam enfraquecer o movimento, o qual, até o momento, está sendo encarado como um fenômeno caótico. O movimento foi feito nas ruas por alguns milhões de pessoas, o que é pouco em comparação com a população brasileira. No entanto, ele teve o total apoio desta. Caóticos também estão sendo consideradas as repercussões políticas do mesmo. A rota do movimento vai da internet para as ruas, praças, órgãos públicos e residências de políticos, destes locais para a imprensa livre e, esta, realimenta o ciclo, o enviando para os locais anteriores. Como o fenômeno parece ser caótico, nada se sabe acerca de seu futuro, se ocorrerão ou não novas manifestações, e quando ocorrerão. Visto que a fonte das manifestações se dá pela internet, tudo indica que as manifestações são fruto da livre comunicação entre as pessoas, enfim, da conjunção da esfera pública abstrata com a esfera pública habermasiana episódica[2].
 


“O modelo da iniciativa externa aplica-se à situação na qual um grupo que se encontra fora da estrutura governamental: 1) articula uma demanda, 2) tenta propagar em outros grupos da população o interesse nessa questão, a fim de ganhar espaço na agenda pública, o que permite 3) uma pressão suficiente nos que têm poder de decisão, obrigando-os a inscrever a matéria na agenda formal, para que seja tratada seriamente” (HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Vol II. 2ª ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003b. p. 114).



“Basta tornar plausível que os atores da sociedade civil, até agora negligenciados, podem assumir um papel surpreendentemente ativo e pleno de conseqüências, quando tomam consciência da situação de crise. Com efeito, apesar da diminuta complexidade organizacional, da fraca capacidade de ação e das desvantagens estruturais, eles têm a chance de inverter a direção do fluxo convencional da comunicação na esfera pública e no sistema político, transformando destarte o modo de solucionar problemas de todo o sistema político” (HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Vol II. 2ª ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003b. p. 115).